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- O PT nasce em meio a um período conturbado, quando organização popular era sinônimo de “desobediência civil”. A crise política e também econômica do Brasil foi um dos motores para acelerar a decisão de criar o PT. Um partido constituído por setores da classe operária, entre os quais os metalúrgicos; bancários; funcionários públicos; estudantes; por segmentos sociais organizados, como o da Panela Vazia; comunidades eclesiais de base, movimentos de intelectuais, artistas e militantes de esquerda que haviam lutado pelo fim da ditadura militar no final da década de 1970.
- Em 24 de janeiro de 1979, durante o IX Congresso de Trabalhadores Metalúrgicos, Mecânicos e de Material Elétrico do Estado de São Paulo, lideranças e ativistas dos movimentos social e sindical aprovam a proposta feita pelos metalúrgicos de Santo André, que conclama “todos os trabalhadores brasileiros a se unificarem na construção de seu partido, o Partido dos Trabalhadores”. Cresce a idéia de criação de um novo partido político e começa a circular o anteprojeto do Manifesto para a fundação do PT.
- No dia 1º de maio de 1979 é lançada a Carta de Princípios do PT. “O Partido dos Trabalhadores entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, que sabem que a democracia é participação organizada e consciente e que, como classe explorada, jamais deverá esperar da atuação das elites privilegiadas a solução de seus problemas”, sublinha um dos trechos do documento lançado durante as atividades do Dia Internacional dos Trabalhadores.
- Em 13 de outubro de 1979, durante reunião com 130 representantes de seis estados do país, é lançado oficialmente o Movimento Pró-PT. Na reunião também é aprovada a Declaração Política que expressa uma plataforma identificada com os anseios dos movimentos populares e apresenta uma nota contrária à reforma partidária imposta pelo regime. Um texto com sugestões básicas para a organização do PT, em todos os níveis, aponta a importância de “uma estrutura interna democrática, apoiada em decisões coletivas e colegiadas que garantam, efetivamente, a sua direção política e o seu programa a partir das decisões das suas bases”. É eleita a Comissão Nacional Provisória, com dezessete responsáveis pela direção do Movimento Pró-PT.
- Em novembro de 1979, a nova legislação dos partidos é aprovada no Congresso Nacional. Feita para fortalecer a organização partidária tradicional na história do Brasil – de cima para baixo –, a nova Lei Orgânica dos Partidos apresenta uma série de entraves que dificultam a legalização do PT. Uma das formalidades indispensáveis para a obtenção do registro do novo partido, a aprovação do Manifesto com, no mínimo, 101 assinaturas, indica somente o início de uma longa batalha.
- Em um ato realizado no auditório do Colégio Sion, em São Paulo, o Manifesto do PT é aprovado, por aclamação, por 1.200 pessoas. Representantes de comissões regionais de dezessete estados brasileiros iniciam a organização do novo partido pelo país e preparam a escolha das coordenações estaduais. No dia 10 de fevereiro de 1980 nasce, no Brasil, o Partido dos Trabalhadores.
- Vencido o desafio da fundação, uma nova etapa exige a mobilização maciça e redobrada da militância: a campanha de filiação e de criação de diretórios e comissões provisórias. É necessário atingir as cotas exigidas por lei para o registro oficial do PT. De fevereiro de 1980 a fevereiro de 1981, as militantes e os militantes do PT empenham todos os esforços para legalizar o partido. Em alguns estados brasileiros, parlamentares do antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) também optam pelo novo partido. Em todos os cantos do país são feitas campanhas de filiação.
- Em agosto de 1981, o 1º Encontro Nacional do PT elege o seu 1º Diretório Nacional, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva. Em 27 de setembro, a 1ª Convenção Nacional referenda o Diretório Nacional, o Manifesto, o Programa e o Estatuto do Partido dos Trabalhadores. Três palavras sintetizam uma história de lutas que inicia uma nova fase no Brasil, comandada por trabalhadores(as) e setores populares organizados em seu partido, o PT: Trabalho, Terra e Liberdade! O PT se apresenta no país como partido independente e, enfrentando a Lei Orgânica dos Partidos, consegue a façanha de legalizar-se, sobrepondo-se ao entulho autoritário da legislação. Constitui ainda uma organização interna própria para garantir a democracia partidária.
- Como partido em construção, o PT se organiza em debate aberto para a definição de seus rumos. Tarefa que impõe a organização de sua base e faz de sua própria estrutura interna um exemplo de democracia a ser seguido no país. Nesse processo, o PT procura também resgatar as melhores tradições das esquerdas que o precederam.
- Uma etapa importante ocorre em 1982, quando o PT participa, pela primeira vez, com candidaturas próprias, de eleições para todos os níveis. O PT obtém 1,46 milhão de votos (3,1%). Conquista as primeiras prefeituras, em Diadema (SP) e Santa Quitéria (MA), e elege oito deputados e deputadas federais e treze estaduais. Os mandatos para os executivos municipais, iniciados em 1982, foram prorrogados por mais dois anos, estendendo-se até 1988.
- Em 1983 – paralelamente à primeira greve geral no Brasil e após um período de quase duas décadas de repressão e arbítrio iniciado com o golpe militar – o Partido dos Trabalhadores encabeça a campanha por eleições diretas para a Presidência da República. No dia 27 de novembro desse mesmo ano o primeiro comício Pró-Diretas reúne 15 mil pessoas na Praça Charles Muller, no bairro do Pacaembu (SP). No ano de 1984 a campanha pelas Diretas Já ganha as ruas, com uma forte mobilização popular. O Congresso Nacional rejeita a emenda da oposição, mas o Brasil já não é o mesmo.
- Duas importantes organizações, uma de trabalhadores urbanos e a outra de trabalhadores camponeses, dão maior intensidade ao ciclo de transformações que atravessa o Brasil, nos anos 1983 e 1984. O anseio dos trabalhadores por uma organização autônoma, independente do Estado e favorável ao rompimento definitivo com os setores atrasados do sindicalismo torna-se indispensável. Em 23 de agosto de 1983, durante a Conclat – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora –, é aprovada a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 1984, durante Congresso realizado em Curitiba, no Paraná, é fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), movimento de luta por terra e reforma agrária.
- Mesmo com um número muito pequeno de deputados no Congresso, o PT assume um papel decisivo na conquista de eleições livres e diretas. O PT recusa-se a participar do ilegítimo Colégio Eleitoral – instituição do regime militar formada por membros da Câmara e do Senado que escolhiam o presidente da República –, que elegeu Tancredo e Sarney. Os deputados que descumpriram a decisão, aprovada pela imensa maioria da base, são desfiliados do partido.
- Nas eleições de 1985 – para as capitais e áreas de segurança nacional com mandatos de três anos (1985-88) –, num cenário que carrega fortes vícios políticos, a vitória do PT à Prefeitura de Goiânia, que tem como candidato Darci Acorssi, é impedida por uma escandalosa fraude. Ainda assim, o PT conquista a Prefeitura de Fortaleza (CE) e se consolida como a voz mais forte da oposição ao governo Sarney.
- Em 1986, elege 39 parlamentares às assembléias estaduais e uma bancada de dezesseis deputados e deputadas à Assembléia Nacional Constituinte, na qual desempenha papel destacado na ampliação dos limites da nova Constituição, promulgada em 1988.
- Em 1987, o partido realiza seu 5º Encontro e nele define as bases do programa democrático-popular que então norteará os rumos do PT.
- Nesse ano, durante as eleições – convocadas após renúncia do prefeito, morte do vice e afastamento do presidente da Câmara por questões jurídicas – para o mandato-tampão do prefeito de Vila Velha (ES), ocorrem novas tentativas para impedir a posse de Magno Pires, do PT. Dessa vez a manobra não tem resultado, e o PT é eleito para administrar o município.
- No final da chamada Nova República, em 1988, o partido obtém um crescimento espetacular, conquista 33 prefeituras, três das quais de importantes cidades brasileiras – São Paulo, Porto Alegre e Vitória –, e elege cerca de mil vereadores e vereadoras em todo o país.
- Em 1989, Lula disputa a Presidência da República na primeira eleição direta depois de 1964. A eleição de 1989 destaca-se na história política do Brasil como um episódio insólito. A primeira eleição presidencial, após uma longa e amarga ditadura militar que pairou sobre o Brasil, é a coroação de um processo democratizante, empurrado adiante por um movimento de massas sem precedentes. Nesse panorama, o PT desperta um grau inédito de interesse e politização popular. Adesivos em vidros de carros, bandeiras vermelhas empunhadas, a sinalização do polegar e indicador formando um “L” de Lula – como se bradasse: Lula, estamos com você –, ao som do jingle Lulalá, brilha uma estrela/Lulalá, meu primeiro voto, ilustram o engajamento popular na campanha. Apesar das condições bastante desfavoráveis – falta de recursos e boicote da mídia –, o PT consegue transformar o sabor de frustração da Nova República, protagonizada pelo governo Sarney, em sonho por um novo Brasil.
- A força do PT, ausente no adversário, está na militância. Numa grande frente, artistas, trabalhadores dos mais diversos setores, intelectuais, gente simples, todos se unem em torno de um mesmo querer: ver o Brasil nascer justo e desenvolvido. Num processo de permanente mobilização, mulheres, homens, jovens e crianças se amontoam nos mega-comícios da Candelária (RJ) e da Praça Charles Muller (SP) e os debates na TV apontam picos de audiência no horário. Lula chega ao segundo turno e conquista 31 milhões de votos contra o candidato das elites, Fernando Collor. O PT qualifica-se como o principal partido das esquerdas brasileiras, alternativa ao projeto neoliberal que entra em curso no dia 15 de março de 1990. A derrota nas urnas não apaga a perseverança, porque para o PT o sonho é e será sempre possível.
- Eleito por pequena margem de votos (42,75% a 37,86%) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Collor apresenta-se como “caçador de marajás”, “inimigo da corrupção” e “defensor dos descamisados”. Em 15 de março de 1990, sua primeira medida é confiscar as cadernetas de poupança e os depósitos bancários acima de Cr$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros) de pessoas físicas e jurídicas. Batizado de Plano Collor, o “pacote” econômico inclui ainda uma reforma administrativa, a extinção de órgãos e empresas estatais, as primeiras privatizações, abertura às importações, congelamento de preços e prefixação dos salários. Como reflexo, o Brasil amarga um dos mais difíceis e graves períodos de recessão, aumento do desemprego e quebradeira das empresas. Sem contar a sucessão de escândalos, um forte esquema de corrupção e tráfico de influência envolvendo a figura do tesoureiro da campanha eleitoral de Collor, Paulo César Farias, o “PC”, ocorre entre as “manobras” radicais do embusteiro presidente.
- Frente a um caótico cenário de transição no Brasil e de crise da esquerda no mundo, o PT reafirma, no 7º Encontro Nacional, a opção anti-capitalista já defendida no Manifesto e Programa de Fundação do PT, de caráter socialista. Na ocasião, aprova a resolução “O Socialismo Petista”, bem como a composição proporcional em todas as instâncias de direção, com representação de todas as chapas que alcancem 10% de votação nos encontros.
- Ciente de que o Brasil não pode esperar o fim do mandato de Collor para retomar o rumo, em julho de 1990 o PT lança o Governo Paralelo, para fiscalizar as políticas do governo federal e propor alternativas viáveis. Em novembro, elege seu primeiro senador, Eduardo Suplicy, e eleva suas bancadas, agora compostas de 35 parlamentares federais e 81 estaduais.
- No Legislativo, o PT encabeça um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os escândalos do presidente Fernando Collor. O objetivo da CPI, pedida pelo PT por meio do deputado federal José Dirceu e do senador Eduardo Suplicy, é assegurar o impeachment, conforme determina a Constituição Federal.
- Paralelamente, o PT fomenta uma forte campanha na sociedade pelo afastamento de Collor. Com cada vez mais adeptos, as mobilizações protagonizadas pela juventude ganham as ruas de todo o Brasil. No rosto, o “Fora Collor” e “Impeachment Já” define o nascimento de um forte movimento de protesto; surgem os “caras-pintadas”.
- O Brasil assiste à votação do relatório final da CPI: aprovado por 16 votos a 5, constata também que as contas de Collor e PC não estão incluídas no confisco de 1990. Vários parlamentares petistas têm destacada atuação para apurar o chamado “esquema PC-Collor”. Em 29 de setembro de 1992 é pedido o impeachment do presidente. Para escapar da condenação, Collor renuncia ao mandato em 29 de dezembro, quando a Presidência da República é assumida pelo seu vice, Itamar Franco.
- Embora curto, o mandato de Collor traz prejuízos devastadores para o país, que vão além do assalto ao Estado. É exatamente a partir de 1990 que se inicia no Brasil a execução de uma política de desmonte do Estado, cujo principal objetivo é a subordinação da sociedade às leis do mercado – o neoliberalismo.
- Nas eleições municipais de 1992, embora não tenha conquistado a reeleição nas cidades de Vitória e São Paulo, o PT se reelege em Porto Alegre e conquista as prefeituras de mais duas capitais: Belo Horizonte e Goiânia – esta última com Darci Acorssi, vítima de fraude no pleito de 1985.
- Em março de 1993, o PT realiza nacionalmente seu primeiro plebiscito interno para decidir sobre a forma – república – e o sistema de governo – presidencialismo – no Brasil. No mês seguinte, abril de 1993, quando os eleitores foram chamados a escolher sobre forma e sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo e monarquia ou república), sai vitoriosa a posição interna do partido.
- Na estrutura interna, a marca da ousadia também é realçada. O ano de 1991, que anuncia grandes mobilizações populares, torna-se um marco na luta das mulheres no PT. O 1º Congresso do Partido dos Trabalhadores aprova a cota de 30% para mulheres nos cargos de direção.
- É preciso reencontrar o Brasil real, faze-lo acreditar que deve compartilhar do sonho por um futuro diferente, melhor. É preciso também mostrar esse Brasil – esquecido – ao outro Brasil – oficial – e ao resto do mundo. O Partido dos Trabalhadores assume a tarefa de realizar a “1ª Caravana da Cidadania”, comandada por Lula. Parte de Garanhuns (PE) com destino a Santos (SP) para percorrer, em 25 dias, seis estados e, ao final, revelar esse retrato do país.
- Em junho de 1993, por ocasião do 8º Encontro Nacional, em Brasília, o PT não deixa dúvidas: a conquista do governo é fruto de ampla mobilização de massas e serve como alavanca para a realização de reformas estruturais. Na resolução “Por um Governo Democrático e Popular”, o PT avalia que “a crise política, econômica e social brasileira só terá solução com a vitória do campo democrático e popular”.
- O ano de 1993 registra ainda outro momento marcante na trajetória da luta popular no país. No mês de outubro nasce a CMP – Central de Movimentos Populares.
- Em 1994, Lula já conhece o Brasil melhor que ninguém. O PT realiza seu 9º Encontro Nacional e aprova as resoluções “A Conjuntura e a Campanha”, “Fidelidade Partidária” e “Carta Eleitoral”, que situam o partido na disputa eleitoral. As pesquisas eleitorais dão conta que Lula é imbatível, logo a classe dominante se ajusta para impedir sua vitória. FHC é eleito presidente no primeiro turno. Lula obtém 27% dos votos, mas o PT avança. Elege 49 deputados e deputadas federais, 89 estaduais, quatro senadores e senadoras e seus dois primeiros governadores: no Distrito Federal e no Espírito Santo.
- O Plano Real, concebido por Fernando Henrique Cardoso quando ainda ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, é aplicado como fórmula mágica para acabar com a inflação. Logo, no primeiro semestre de 1995, o governo FHC consegue aprovar emendas à Constituição, quebrando o monopólio estatal do petróleo, das telecomunicações e da navegação de cabotagem – reformas para garantir a implementação do projeto neoliberal. Em maio, os petroleiros realizam greve de 31 dias, contra as reformas constitucionais, entre as quais o fim do monopólio estatal do petróleo. O governo manda o Exército ocupar as refinarias para encerrar a greve. Para o PT não resta dúvida sobre o caráter neoliberal do governo FHC. Modelo este aplicado e sentido em outros países.
- No 10º Encontro Nacional, em agosto de 1995, além do documento caracterizando o governo de FHC como neoliberal, são aprovados o texto “Conjuntura Nacional” e as resoluções “Construção Partidária”, “O PT e os Movimentos Sociais” e “Resoluções sobre os Petistas e o Comunidade Solidária”.
- O ano de 1996 é iniciado com o “I Encontro Americano pela Humanidade e contra o Neoliberalismo”, em Chiapas, no México. Em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, trabalhadores do campo pedem agilidade e empenho do governo do estado no processo de assentamento das famílias camponesas. No dia 15 de abril, dezenove trabalhadores sem terra são assassinados e 51 feridos, segundo dados oficiais.
- O massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás, que ocorrera poucos meses depois do massacre de Corumbiara, em 9 de agosto de 1995, reforça a tristeza e a indignação. O PT e os petistas denunciam e protestam em todo o Brasil. Ainda em 1996, em maio, o Diretório Nacional do PT institui a Fundação Perseu Abramo, um espaço dedicado ao debate de um programa de reformas estruturais alternativas ao neoliberalismo e à reflexão sobre as perspectivas do socialismo democrático, tanto no plano teórico como no histórico-político.
- “De Fernando em Fernando, o povo vai se ferrando”. A frase estampada em adesivos e camisetas reflete um pouco do sentimento dos setores sociais mais atingidos com o Plano Real do governo FHC, que sofrem os dissabores do desemprego, da queda abrupta do poder aquisitivo, da defasagem salarial, do crescimento da informalidade, do desrespeito à velhice e à infância, da venda indiscriminada de empresas estratégicas ao desenvolvimento do país, da violência contra os movimentos sociais e greves, do atentado à democracia.
- Nas eleições municipais, o PT duplica o número de administrações: elege 115 prefeitos. Vence em Porto Alegre (pela terceira vez consecutiva) e reconquista a Prefeitura de Santo André. Somada a votação das 47 maiores cidades, o PT aparece em primeiro lugar, com 4,8 milhões de votos, e já é o segundo partido mais votado nas capitais. Contudo, sofre derrotas em importantes cidades que antes governava: Diadema (três gestões consecutivas), Santos (duas gestões), Belo Horizonte, Goiânia, Rio Branco, Londrina, São Paulo – perde para o candidato de Maluf –, entre outras.
- Em 17 abril de 1997 chega a Brasília a “Marcha dos Sem-Terra”. A capital federal é tingida do vermelho de bandeiras, camisetas e bonés dos trabalhadores rurais sem terra oriundos das mais variadas regiões do Brasil. Nos meses seguintes, manifestações, atos, audiências e negociações com os governos federal e estaduais agitam novamente o país, com a realização do “3º Grito da Terra Brasil”, organizado por entidades como Contag, CUT, Capoib, CNS, Monap e MAB. Cresce a luta pela reforma agrária.
- Em agosto do mesmo ano, por ocasião do 11º Encontro Nacional, quando é aprovada a realização do II Congresso Nacional do PT, o partido, sensível aos acontecimentos no país, decide “articular uma candidatura presidencial e uma plataforma de governo capazes de construir uma frente de partidos, segmentos sociais, personalidades e entidades democráticas”. Para isso entende que “o avanço das lutas populares é o principal instrumento de resistência ao projeto neoliberal e de sustentação de uma alternativa de governo democrática e popular”.
- O ano de 1997 é encerrado com o “Encontro Popular contra o Neoliberalismo – por Trabalho, Terra e Cidadania”, que reúne importantes forças dos movimentos sociais e partidos de esquerda no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
- A chapa Lula-Brizola para as eleições de 1998 é aprovada no Encontro Nacional Extraordinário, em São Paulo, juntamente com as “Diretrizes do Programa de Governo”. A resistência ao neoliberalismo começa a ganhar corpo, mas FHC vence as eleições presidenciais, com 35,9 milhões de votos, contra 21,4 milhões de Lula. O PT elege governadores no Acre, em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, além de sete representantes no senado, sessenta deputados(as) federais e noventa estaduais.
- O ano de 1999 se inicia com a desvalorização do real – até então elemento de coesão para a vitória de Fernando Henrique Cardoso. A reação não tarda a chegar. Em março, o Fórum Nacional de Luta – que aglutina o movimento popular e o sindical, entidades estudantis e organizações de esquerda – realiza o “Dia Nacional de Luta”. É o início de um processo de intensificação das mobilizações no país. O auge dessa luta acontece em agosto, com a realização da “Marcha dos 100 mil pelo Brasil”, contra as políticas neoliberais e numa declarada oposição popular a FHC.
- É no contexto das comemorações oficiais dos “500 anos do Brasil”, do revigoramento dos movimentos sociais e do início do milênio, que o PT realiza seu II Congresso, em novembro. Esse momento simbólico põe, na ordem do dia, não só a necessidade de uma reflexão sobre a profunda crise que submete o país, mas a exigência de urgentes soluções para os problemas que golpeiam o cotidiano da maioria do povo. É aprovado, durante o II Congresso do PT, o “Programa da Revolução Democrática”. Sua concretização supõe uma nova hegemonia e um bloco de forças políticas para substituir, no governo, as elites atuais.
- No encerramento da década de 90, mais um fato relevante surge para fortalecer a luta contra a globalização neoliberal: em Seattle (EUA), milhares de manifestantes de todas as partes do mundo, jovens na sua esmagadora maioria, protestam contra a Rodada do Milênio da OMC – Organização Mundial do Comércio, o que acaba por levar a reunião de cúpula a um explícito fracasso.
- Despenca a popularidade do governo federal, que reage com autoritarismo aos conflitos sociais. Na capital paulista, em 18 de maio de 2000, tropas de choque reprimem violentamente uma passeata de estudantes, professores e funcionários das universidades estaduais em greve.
- Em setembro é realizado o “Plebiscito da Dívida Externa”, organizado pela CNBB, CUT, MST, PT, entre outros. Dos 6,1 milhões de votos apurados em várias regiões do país, 90% dizem não ao acordo com o FMI.
- Nas disputas eleitorais de outubro o PT impõe uma exemplar derrota ao governo FHC e ao bloco conservador: conquista 187 prefeituras e 131 vice-prefeituras e faz 2.485 vereadores no país. Comparado aos resultados de 1996, o PT tem um crescimento de 51,2%, obtendo 4.045.244 de votos a mais. Das 62 maiores cidades do Brasil, que concentram cerca de 30% da população, o PT está à frente de dezessete administrações, entre as quais São Paulo, Porto Alegre (reeleição), Belém (reeleição), Aracaju, Goiânia, Guarulhos e Campinas. Em coligação, está presente também em Belo Horizonte e Macapá, entre outras.
- E m 2001, ano que oficializa o novo século, milhares de pessoas vindas de 117 países se reúnem no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, para discutir alternativas que sinalizem a construção de uma nova ordem mundial, baseada na justiça social e na fraternidade. Durante cinco dias, entre 25 e 30 de janeiro, o Fórum – também conhecido como Fórum Anti-Davos – possibilita a integração e a troca de experiências das mais diversas entre representantes dos países participantes. Embora distintos em idiomas, hábitos, religiões, culturas, economias e políticas, um clima de irmanação envolve um vigoroso protesto contra o neoliberalismo e reforça uma mesma certeza entre os povos: “Um outro mundo é possível”.
- O Brasil está nas trevas. FHC anuncia medidas de redução do consumo de energia para enfrentar a crise energética, atribuída à “falta de chuvas”. Ninguém engole mais este acinte de FHC. Novos protestos são desencadeados pela CUT e movimentos populares contra a irresponsabilidade do governo, comandante das privatizações do setor energético.
- Na noite de 10 de setembro de 2001, é assassinado Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, prefeito de Campinas. Indignada, a população da cidade acompanha o enterro, que reúne 100 mil pessoas.
- Em 20 de julho, novamente milhares de manifestantes protestam contra a reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia) em Gênova. A polícia italiana reprime fortemente o movimento, que tem sua primeira vítima. Mas os protestos prosseguem.
- No Brasil, o PT se fortalece. O 12º Encontro Nacional do Partido, em Recife, entre 12 e 14 de dezembro de 2001, coroa uma iniciativa inédita da história política brasileira. Em cumprimento da decisão do 2º Congresso, o Diretório Nacional aprova um novo Estatuto com importantes medidas, como a inovação na escolha das direções por meio de eleições diretas (PED) e a instituição da Carteira Nacional de Filiação.
- E m nome do combate ao terrorismo, os Estados Unidos cometem atrocidades no Afeganistão e se associam a bandos facínoras, como já haviam feito nos anos 80, quando se aliaram aos talebans e ao próprio Bin Laden para combater os soviéticos. Na manhã de 11 de setembro de 2001, dois aviões se chocam contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em um ataque terrorista que mata milhares de pessoas. Sem hesitar, o governo norte-americano estende as ameaças a outros países, quando afirma que irá atacar os “terroristas” onde quer que estejam. Internamente, o combate ao terrorismo enseja uma sucessão de violações dos direitos civis, a instituição de tribunais de exceção, o cerceamento do direito de defesa de “suspeitos”, entre outras medidas discriminatórias, sobretudo contra estrangeiros.
- O PT condena enfaticamente o terrorismo, expressa sua solidariedade às vítimas e repudia a guerra que vitima a população civil afegã e multiplica os atos de barbárie. Para o PT, os conflitos devem ser enfrentados pela via diplomática nos organismos internacionais, na perspectiva da tolerância cultural e religiosa, garantia de paz mundial e convivência dos povos. E afirma, publicamente, a necessidade de cessar rapidamente as ações militares, no intuito de que haja paz e negociações e os responsáveis pelo terrorismo sejam julgados por tribunais internacionais.
- O ano de 2002 reserva ao PT grandes desafios.
- Em setembro é realizado o Plebiscito sobre a Alca – Área de Livre Comércio das Américas, organizado pela CNBB, CUT, MST entre outras organizações sociais. Dos mais de 10 milhões de votos apurados em várias regiões do país, mais de 90% dos participantes dizem não à Alca e não à entrega da Base de Alcântara.
- Agora é Lula! Com esse espírito, imbuído de certeza da gigantesca luta anunciada, que vai demandar um incansável empenho por parte de cada militante, o PT está preparado, aos 22 anos, para enfrentar mais um emblemático desafio: mudar acara do Brasil.
- Passados exatos treze anos da primeira campanha do PT à Presidência da República, Lula vence nos dois turnos. Já no primeiro turno, em 6 de outubro – data que consta em seu registro de nascimento –, Lula bate o recorde de votos atribuídos a um candidato: 39.443.765 (46,4% dos votos válidos). Em 27 de outubro – data em que realmente nasceu Luiz Inácio Lula da Silva –, Lula é consagrado presidente da República Federativa do Brasil por 52.793.364 votos (61,27% dos votos válidos). É a maior votação obtida para a Presidência da República no Brasil e a segunda maior atribuída a um candidato em todo o mundo.
- Nas eleições de 2002 o PT é o maior partido do Brasil. Elege a maior bancada federal – 91 deputados –, duplica sua presença no Senado – de sete para catorze –, salta de 92 para 147 em número de deputa dos estaduais, reelege Jorge Viana (AC) e Ze ca do PT (MS) e elege Wellington Dias (PI). A vitória de Lula reforça a esperança de mudança prenunciada no início do novo milênio. O Partido dos Trabalhadores é o depositário do sonho de milhões de brasileiros e brasileiras em transformar seu país numa Grande Nação. Aos 23 anos, o PT está cada vez mais disposto e capacitado a prosseguir na luta pela construção de um país livre, igual e solidário, que socialize riqueza, poder e conhecimento.
- Preocupado com os conflitos que se avolumam no Iraque e Oriente Médio – ameaça dos pelos EUA, por supostamente “abrigarem” armas nucleares –, o PT junta-se à voz e à ação de todas as organizações que, nos cinco continentes, bem como no Fórum Social Mundial, condenam a guerra iminente. Durante o III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o PT, representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por parlamentares, ministros, dirigentes e militantes, conclama os povos dos Estados Unidos, do Reino Unido e dos demais países que apoiam a intervenção bélica a se mobilizarem prol de outros meios, que não a violência e o poder bárbaro das armas modernas, para solucionar os conflitos internacionais.
- O PT desfecha uma ampla campanha contra a guerra ao Iraque. Em março de 2003, à revelia das maciças manifestações exigindo Não à Guerra contra o Iraque, os governos envolvidos no plano beligerante iniciam os ataques ao Iraque. O Partido dos Trabalhadores condena, publicamente, a deflagração do conflito, em especial pelas graves conseqüências impostas às populações civis da região e pela violação do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas. Reitera que o entendimento entre os povos é condição necessária para a democracia e o desenvolvimento com justiça social. Para o PT, o ataque ao Oriente Médio desrespeita normas consensuais da comunidade internacional, baseada no reconhecimento da soberania das nações e dos povos.
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